quinta-feira, 8 de outubro de 2009

As núpcias de Canaã

Toda mensagem evangélica se reveste de um simbolismo próprio, a fim de ocultá-la de olhares profanos, que não entenderiam seu real valor. O apóstolo João, da escola Grega que dava valor a essa forma de escrever, inicia o seu Evangelho sobre o ministério de Jesus expondo sobre a encarnação do verbo, cuja vida é a luz dos homens e do qual ele dá testemunho na cerimônia de batismo à beira do Rio Jordão. Refere-se, a seguir, sobre uma viagem que Jesus teria feito a Canaã, com sua mãe e seus discipulos, para assistir a uma festa de casamento.

Nessa festa, a cristandade alega ter ele feito o seu primeiro milagre, pois teria transformando água em vinho.

Todavia, como destaca Kardec na "A Genese", deveria ele ter sido um dos mais
notados, mas, ressalta, bem pouca impressão parece ter produzido, porquanto nenhum outro evangelista dele trata ou menciona. Fato tão extraordinário era para deixar espantados, no mais alto grau, os convivas e, sobretudo, o dono da casa, os quais, todavia, parece que não o notaram. Conclui Kardec que, a seu ver, o fato não ocorreu -- e que seria racional se reconheça aí mais uma parábola de Jesus.

De fato, não cremos que Jesus tenha vindo ao mundo como mágico de feira, para transformar água em vinho. Seria também uma tremenda falta de bom senso dar mais bebida aos convivas, talvez já alcoolizados no final da festa. Sua mãe, é sabido, desconhecia sua elevada missão terrena, por isso não tem sentido pedir que fizesse nessa festa exibições e demonstração de poder!

Tentemos descerrar o véu alegórico dessa historia. Sabemos que a terra de Canaã foi prometida por Deus a Abraão e seus descendentes: a raça humana. É o mundo da luz, da beleza, da alegria, da paz. Belo intróito do apostolo!

A conquista desse mundo pelos homens, porém, sómente se dará com o casamento, na união perfeita dos seres com o seu Criador. O milagre da ressureição
do espirito diante da vida, após a cerimônia do batismo, ou a plena aceitação da sua origem celestial.

Assim como Abrão, no principio das coisas, obedecendo a ordem Divina, sai da sua terra, abandona a parentela, e faz sua peregrinação por lugares inóspitos, o espirito humano, atedendo à lei do progresso espiritual, deixa no espaço, sua pátria, seus parentes e amigos e mergulha num corpo, no vaso de purificacão da vida. Muda de nome, como fez Abraão, e com todos os seus familiares, os seus vícios e imperfeições, aos quais se afeiçoou no passado, procura na reencarnação livrar-se dessas impurezas.

Necessita do casamento com a luz, o entendimento espiritual.
Essa a finalidade grandiosa da peregrinação do espirito humano pelos pedregosos caminhos terrenos: obter mais luz, mais sabedoria. É a vida na terra da promissão, onde no vaso purificador da carne, que durante toda uma existência de tropeços, dificuldades, se transforma assim em outro elemento, mais puro, mais saudável. Muda de água para vinho, como na parábola.

Mas isso só é possivel, no dizer do apóstolo João, com a ajuda de Jesus, com a prática do bem e do amor ao próximo, com a perfeita integração na sua doutrina de amor e bondade. Só ele ilumina os seres: é o caminho, a verdade, a vida.

O noivo, o ser em ascensão, ao retornar ao plano espiritual, de onde saiu para as lutas terrenas, exibirá suas conquistas aos convivas, a parentela que lá deixou quando encarnou-se procurando a elevação espiritual. Brindará somente com o vinho que obteve. Se foi feliz no seu desiderato, o Mestre de cerimônia, seu mentor e protetor responsável pelo seu progresso regozija-se: "Isto é coisa muito boa! Não gastou a existência em futilidades para ficar, ao final, ácido ou azêdo, mas tornou-se, com a prática do bem, com Jesus no coraçao, mais puro, melhor, com o perispirito acessivel às clarinadas de luz que emanam do seio de Deus.

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